Entre as
memórias da
minha infância,

as mais marcantes são as das recepções que aconteciam lá em casa. Claro que eu só participava da melhor parte: a preparação da festa! Lá pelos seis anos, quando meu ombro finalmente se nivelou ao tampo da mesa de jantar, foi que começaram as descobertas. Me lembro de caminhar em volta da mesa, quase em câmera lenta; as pontas dos dedos passando de leve na toalha. Os olhos analisando de perto a louça enfileirada na borda, como uma moldura, revelando pra mim o número de convidados daquele dia. Ao lado de cada prato, os talheres meticulosamente alinhados na ordem da etiqueta: entrada, prato principal e no alto, pra coroar, os de sobremesa. Depois da checagem minuciosa da mesa, eu corria pra cozinha. Ali, minha mãe já estava transformada em mulher do governador e orquestrava a ordem de cada aperitivo, selecionava as travessas, explicava a forma de servir. Eu assumia outro posto: o de provadora oficial de cada prato. Com colherzinhas de café em punho, ia ganhando daqui e dali meu mini-menu-degustação exclusivo. Naqueles momentos em que eu parecia flutuar no meio de uma profusão de pessoas, pratos, panelas, sons e cheiros, fui aprendendo os sabores e absorvendo as referências que até hoje são parte da minha formação como pessoa e como chef de cozinha. A isso, eu somei a minha outra formação: a de educadora. E transformei essas paixões nos principais ingredientes das aulas que eu divido com cada um e cada uma das minhas alunas e alunos. Muito prazer!